quarta-feira, 24 de junho de 2009

Em Terapia - Segunda Temporada

It's not TV. It's HBO! Este é o slogan do canal cuja programação tem sido a melhor da TV em duas décadas. Apesar de tal slogan cair como uma luva para o canal, arriscaria dizer que um ainda melhor seria: It's not TV. It's Art!

Há alguns anos assisti a uma entrevista do Paulo Autran, provavelmente no canal Cultura, em que o ator dizia: o teatro é a arte do ator, o cinema é a arte do diretor e a televisão é a arte do marketing (ou alguma coisa parecida). Na época da entrevista, quando eu ainda não possuía TV por assinatura, concordei com a afirmação. Hoje, depois de um canal de TV oferecer em sua programação séries originais, ou seja, produzida pelo próprio canal, como Família Soprano, A Sete Palmos e minisséries como Band of Brothers, Angels in America e John Adams, tenho a convicção de que é possível "vender" arte na Televisão.

Mais uma prova disso está nas duas séries produzidas atualmente pelo canal que chamam a atenção: True Blood e Em Terapia. A primeira deixo para outro post uma vez que, apesar de já ter me viciado, ainda estou na metade da temporada. O foco deste post é Em Terapia, cuja segunda temporada a HBO apresenta de segunda a sexta.

Uma primeira temporada impecável deixa sempre a expectativa por uma segunda ainda melhor. Na maioria das vezes tal expectativa é frustrada, algumas vezes ficamos satisfeitos e raríssimas vezes ela é superada. Como estamos falando de HBO, temos aqui o terceiro caso.

Todas as histórias que lemos em um livro, num jornal ou vemos em um filme tem em comum o fato de o personagem central ter um problema que o leva de um estado original a um final, independentemente se aquele problema é solucionado ou não. A questão central que nos leva a acompanhar tal história não é o problema em si, mas como o personagem chega ao final da história de uma determinada forma.

E como melhor falar de problemas que entre quatro paredes, num consultório, durante uma terapia? Assistindo à série durante essas duas semanas, problemas são o que não falta. Assisto pelo menos duas vezes cada episódio, mas a sensação que fica no final de cada um é que não importa quantas vezes você veja, sempre haverá algo para descobrir sobre cada personagem. Culpa de quem? Roteiristas. Com um texto denso, eles revelam os personagens a cada frase, a cada olhar, a cada respiração, a cada pausa; e nós refletimos com cada um deles.

Apesar de cada personagem trazer à tona suas angústias de uma forma específica (afinal são personagens diferentes), acredito que esta segunda temporada tenta tratar de um problema pontual: a solidão. Mas a simplificação de um texto impecável em uma palavra até certo ponto banal não faz jus a esta série. Então vamos tentar detalhar um pouco mais cada personagem.

Mia é a paciente de segunda-feira: 42 anos, advogada, solteira e com uma história com o próprio terapeuta, Paul Weston. Aos 22 anos era sua paciente e no mesmo período teve um relacionamento com ele. Grávida de Paul, optou pelo aborto. O final do episódio da terceira semana, que foi ao ar na última segunda-feira (22), resumiu bem todo o sentimento de abandono da personagem. Ela diz que a única coisa de que precisa é ter alguém no final do dia para conversar, um companheiro.

April, a paciente de terça-feira, possui um tipo de câncer agressivo. Descobrimos logo no primeiro episódio que ela não deseja fazer quimioterapia. Os motivos para esta decisão vamos descobrindo aos poucos: o autismo do irmão, problemas de relacionamento com a mãe, término de um relacionamento com namorado. Talvez April seja a personagem cujos problemas sejam os mais difíceis de ser resolvidos.

Oliver é o garoto da temporada. Seus pais estão em processo de separação e acredita que ele seja o motivo da separação dos dois. Como tudo que fala parece levantar desavenças entre seus pais, ele decide não reclamar mais de nada e apenas falar que está tudo bem com ele.

Walter, alto-executivo e pai que se vê abandonado pela sua filha que viaja para a África, é interpretado pelo melhor ator dessa temporada. Suas sessões ocorrem na quinta-feira. Apesar da crise na empresa dele, o maior problema para ele é o fato de estar longe de sua filha e por isso se sentir rejeitado por ela. Mais uma vez o problema da solidão é tratado.

Paul, como sempre, tem suas sessões com Gina, interpretada brilhantemente por Dianne Wiest. Depois de ter se separado da mulher, Paul revela seus problemas para sua agora terapeuta. Entre tais problemas está o de ele não querer ser como seu pai (ou como pensa que seu pai foi) em abandonar seus filhos e consequentemente ser abandonado por eles. Gabriel Byrne continua ótimo no papel de Paul Weston, o terapeuta que nos quatro primeiros dias da semana parece ter tudo sob seu controle, apenas para que na sexta percebamos que ele possui tantos danos ou mais que seus pacientes.

Com a questão girando em torno da solidão, a segunda temporada de Em Terapia caminha para superar a primeira. Não que isso seja necessário para que a série seja boa. Mas nada melhor que confirmar que sim, é possível mostrar arte na televisão!


4 comentários:

Dom .A. disse...

Viva a TV por assinatura! Se não oferecesse bom conteúdo, emissoras abertas não estaríam perdendo audiência. Vlw

fferraz disse...

Pô, não sabia que a Hortência, rainha do basquete, participava de In Treatment!!! Olha ela ali na primeira imagem a esquerda!!

Dom .A. disse...

Fala, garoto! Cadê a atualização? - risos. Boa semana!

Ab

Anônimo disse...

A Mia não ficou grávida do Paul. Nem teve um caso com ele no passado. De fato o diálogo dá a entender isto (talvez a tradução), mas eu voltei 3 vezes para ter certeza. E depois ela fala do pai da criança. Era um baterista (ou coisa que o valha!!)