segunda-feira, 20 de outubro de 2008

We've got Film Festival!

A minha semana de carnaval chegou! Meu carnaval fora de época é em outubro! Na verdade, a minha semana de carnaval dura duas semanas! Sim: 32a Mostra de Cinema de São Paulo! 

Sexta-feira: O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married). 

Posso comparar meu começo de Mostra como o longo trânsito das estradas na sexta-feira pré-feriado de carnaval: é cansativo mas não ficamos tristes porque ainda temos um longo feriado pela frente. O primeiro motivo que me leva à comparação é mais óbvio: uma hora e meia (quase duas) de Barueri até a Paulista; mas como todo paulistano, já estou acostumado. O segundo é relacionado ao filme: a idéia por parte do diretor Jonathan Demme de filmar com a câmera na mão para dar ao filme o ar de vídeo caseiro é bastante interessante...até os primeiros 40 minutos. Depois disso o filme se torna cansativo e parece só ficar interessante novamente nos minutos finais. Chegando a mais ou menos 1 hora e meia, eu meio que me perguntava no meio de tantas cenas que pareciam apenas estar ali para o filme ser considerado longa-metragem: mas a que eu estou assistindo mesmo? Lembrei: à história de uma menina ex-viciada que volta para casa para participar do casamento de sua irmã, a tal Rachel. E a comparação? Sabe quando você está no começo da serra e pensa: acho que esse trânsito não vai durar até o final? Mas quando você está no meio você percebe que a sua ida à praia será mais lenta do que imaginava e você quer voltar. Não que eu quisesse desistir da história de Kim no meio, mas que eu queria que acabasse logo...isso eu queria. 
Um trunfo do filme e que talvez evite que ele caia no total marasmo é definitivamente a personagem principal  e a atriz que a interpreta, Anne Hathaway. No início tudo parece conspirar para mais um filme sobre uma rebelde sem causa, cujos pais divorciados são para ela a desculpa para o vício. Com o passar das cenas, porém, descobrimos que ela não só tem uma causa para estar do jeito que está como também ficamos pensando como seria a nossa vida se nos tivesse acontecido a tragédia que aconteceu com ela. Além disso, ela está longe de odiar a família. É amada pelo pai, pela irmã (e talvez pela mãe) e os ama também. O conflito principal está no fato de por amá-los tanto, existe o medo (e consequente policiamento) constante por parte dela própria de destrui-los (a cena em que todos estão na cozinha disputando quem carrega a máquina de lavar mais rápido exemplifica o poder que a ela acredita ter em destruir sua família).
Mas o filme não seria nada sem uma trilha-sonora. Mas como trazer para o universo diegético (meu curso de cinema está valendo a pena) algo que na maioria das vezes é extra-diegético? Simples: ponha a banda que vai tocar no casamento nas sequências dentro da casa. Não tão simples: para quebrar o cansaço que o som do violino causa durante o filme, escreva para a personagem principal a seguinte fala - "Eles vão ficar tocando o fim-de-semana inteiro?".
Essa tenha sido talvez a frase mais cômica e propícia para um filme duro como este (acredito que toda a platéia naquele momento queria que aquele violino parasse). Mas o cansaço chega e quando chega, você não vê a hora de chegar na praia. E como para descansar, o diretor coloca na cena final (mais precisamente nos créditos), a cena melancólica de uma Rachel apreciando a banda que ainda toca...(eu fiquei até o final dos créditos esperando que ela gritasse "Shut up!" - (in)felizmente isso não aconteceu).

Sábado: Leonera (Leonera).
Cheguei à praia; e ela fica no Cine Bombril novamente! Sem ter lido alguma crítica sobre o filme argentino, a única informação que tinha era que...enfim...ele era argentino. OK! Estamos numa mostra, mas precisa ter fotógrafo? Aparentemente sim. Mas espera...pessoas de pé na sala? Sim! Mas que falta de organização! Não. Os ilustres convidados e para quem câmeras apontavam eram nada mais nada menos que o diretor argentino Pablo Trapero e a atriz que interpreta a protagonista, Martina Gusman. Grata surpresa! Entre alguns "Buenas Noches!" y "Yo no hablo portugués pero un poco portuñol", a simpática atriz e seu marido diretor dão as boas-vindas à platéia que veio apreciar Leonera.
Confesso que não sou fã do cinema argentino! Mas se não fui fã ferferoso de Leonera, pelo menos "la película me hizo cambiar algunos de mis conceptos". Como o diretor explicou no debate a origem do nome, a palavra "leonera" assume dois sentidos: o primeiro como sendo o lugar de "madres leonas", aquelas protetoras (como devem ser as mães que tem que criar seus filhos nas prisões); o segundo, como o lugar onde as mulheres presas esperam para falar com seus familiares na prisão (um local de transição - como aquela pela qual a personagem passa).
O mérito desse filme, além da ótima interpretação de Martina como uma presidiária que dá a luz um filho do homem que talvez tenha matado, está no roteiro que deixa muitas questões em aberto. Agumas delas: existe uma relação de amor entre ela e seu filho ou seria apenas interesse por parte da mãe em ficar em uma parte da penitenciária supostamente melhor? Ela amaria a outra presidiária ou apenas tira dessa relação a vantagem de ter alguém para cuidar de seu filho?
A ótima não obviedade do roteiro só perde para a excelente obviedade do diretor quando, no debate pós-filme, responde a uma pergunta feita por um fã-espectador sobre seus diretores favoritos: Pablo gosta dos diretores dos quais a maioria cinéfila gosta...quanto aos outros bem menos conhecidos, "no vale la pena mencionarlos".

Domingo: Sonata de Tokio (Tokyo Sonata)
Foi difícil, mas valeu a pena. Alguns milhares de torcedores do Palmeiras e algumas dezenas de policiais depois, eu cheguei ao cinema. Poderia aqui filosofar sobre todas as tribos que compõem a nossa paulicéia, mas como escritor eu sou um ótimo degustador de pizza, vou fazer como o diretor Kiyoshi Kurosawa e deixar os clichês de lado.
Como o fim de carnaval melancólico, meu domingo chegou ao fim com a cena memorável de um garoto tocando piano em um salão onde adultos o admiravam. O silêncio da platéia que ocupava o mesmo espaço-tempo que o garato foi interrompido pelos aplausos da platéia que o admirava a milhares de quilômetros e a meses de distância, platéia da qual eu fazia parte. Não bati palmas: talvez pelo fato de no momento ainda digerir o que havia acabado de assistir; talvez pela melancolia do fim da sessão.
Andando pela rua, ouvindo o som da torcida que vinha do estádio, a melancolia foi substituída pela sensação de um carnaval ainda não terminado, porque mesmo que a data oficial do fim do carnaval seja a quarta-feira de cinzas, o brasileiro só volta à realidade na segunda-feira da semana seguinte, depois do Fantástico. O meu carnaval, para a minha alegria, só termina daqui duas semanas.

Próxima sexta-feira: Queime Depois de Ler (Burn After Reading).

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E o gato com cara de "vocês-não-tem-nenhum-assunto-mais-não?!"