domingo, 22 de fevereiro de 2009

Oscar Night!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Mil palavras sobre nossa Cultura


Stephen Marche faz uma relação bastante interessante entre os filmes de terror e o mundo atual na sua coluna "A Thousand Words About Our Culture" (a tradução é o título desse post) na edição de março da revista Esquire. A tradução (livre feita por mim) da coluna segue:

Quando estivermos todos mortos, quando as pessoas estiverem olhando para este período daqui a 100 anos, elas dirão que vivemos na idade do corpo negro. Este é o nome estiloso que os físicos deram para aproximadamente 95% das coisas do do universo que eles simplesmente não entendem. É também uma boa descrição para os swaps de crédito e os outros instrumentos financeiros críticos que causaram o crash econômico - "armas financeiras de distruição em massa", como Warren Buffett os chamou, explicando riscos por meio de algoritmos que ninguém, nem mesmo Warren Buffett, conseguia entender. E de que outra forma explicar algo apresentado através de um programa maligno chamado "Fringe", que não é apenas sobre coisas paranormais malucas, venenos que comem carne, bebês nascidos como homens velhos, parasitas fabricados, e assim por diante. Não: todos esses medos estão amarrados no "Padrão", uma força negra misteriosa evidente em todas as partes mas presente em nenhuma. Nós não estamos entrando em uma Grande Depressão mas sim em uma Grande Incompreensão: nós simplesmente não temos idéia do que esteja acontecendo e nenhuma pista de quão ruim isso vai ficar. Por isso tememos. Nossa condição espiritual no momento, na nossa confusão intelectual, na nossa economia decadente, nas nossas várias guerras contra sabemos lá quem, é uma falta de entendimento que dá medo: tem alguma coisa lá fora. Nós sabemos que deve ser lógico, mas isso é tudo que sabemos.
Dê uma olhada nos seguintes filmes de terror. Os filmes de terror têm a mesma função no século 20 e 21 que os contos de fada tinham para as crianças antigamente - tornar nossos mais amplos e vagos medos  em algo concreto e dessa forma, confortável. Nos anos 50, mutação radioativa e a ameaça de uma aniquilação nuclear se tornaram o "Godzilla", "A Bolha Assassina", as formigas gigantes em "Them!". As Audiências de McCarthy geraram "Vampiro de Almas"; o consumo desesperado do anos 70, aos zumbis fora do shopping em "O Renascer dos Mortos". Os anos 90 viram Natasha Henstridge em "A Experiência" se tornar o ícone para as novas ansiedades sobre manipulação genética. Os filmes de terror nos livra dos medos que inalamos todos dias das páginas dos jornais. Esse é o trabalho deles. Então não deveria ser nenhuma surpresa que as ameaças desse ano venham do saber sem entender. E caixas. Me acompanha: no novo thriller do Nicolas Cage, "Knowing", o herói esconde uma cápsula do tempo,  que contém previsões de todas as catástrofes do mundo. Ele sabe mas ele não entende: esse é o terror dele e o nosso. Em "The Box" do diretor Richard Kelly (será lançado esse ano), um casal recebe uma máquina de madeira que os dá 1 milhão de dólares toda vez que eles apertam um botão, com a condição de que cada vez que a usam, alguém que eles não conhecem, em algum lugar do mundo, morrerá. Essas caixas, que em tempos mais simples poderiam ser fontes de mistério e intriga, tornam-se instrumentos de terror, mas é melhor que nossos heróis confrontem caixas fantasiosas que caixas com que as pessoas realmente precisam lidar no metrô de Nova Iorque, nas praias de Tel Aviv, escondidas debaixo de um assento numa estação de trem em Mumbai, que são muito mais assutadoras: niilismo que ruge, um ódio feroz e vazio do completo do mundo, desconhecido mas também não ignorável.
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Talvez tenhamos que nos livrar do medo do desconhecido e mostrar um pouco de humildade em relação às limitações do conhecimento. Porque isso pode nos apontar para a fragilidade e glória do mundo em que vivemos. Depois de cada bombardeio, nós nos preocupamos com a vulnerabilidade das nossas cidades, mas também nos é mostrado o quão magníficas elas são. 
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