quinta-feira, 18 de setembro de 2008
sábado, 13 de setembro de 2008
Sobre Ensaio Sobre a Cegueira
Depois de "Sangue Negro", "Ensaio Sobre a Cegueira" era o filme que eu mais aguardava esse ano. Minhas (altas) expectativas aumentaram quando anunciaram que, além de ser o filme de abertura, Blindness ainda concorreria ao prêmio máximo do Festival de Cannes.
Depois da exibição, a crítica internacional se dividiu e já era de se esperar que o filme não levaria o prêmio. Na mesma cidade de Cannes, o diretor Fernando Meirelles diria em entrevista que estava mais ansioso em mostrar ao autor do livro, o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura por Memorial do Convento, José Saramago, que no festival.
Segundo o próprio Meirelles, a avaliação de Saramago sobre o filme foi positiva e a minha expectativa decolou. Mas o diretor teve que contrariar em parte a opinião de Saramago. Um dos principais alvos da crítica foi a narração em off feita feita durante boa parte do filme quando este foi exibido em Cannes. Fernando consultou e Saramago opinou pró narração em off.
Depois de ver o filme opino: Fernando acertou em ter só deixado alguns minutos com narração. Imagino que o filme inteiramente narrado ficaria muito didático, como quase ficou o final, chegando a lembrar um avô contando uma historinha para o neto.
Não quero comparar aqui o livro com o filme, uma vez que o li já faz anos e não lembrava de muitas coisas quando assisti ao filme. Algo me deixou incomodado, porém, foi a relativa limpeza da cidade em relação ao que tinha em mente na época em que li a obra. Apesar disso, ver vários pontos conhecidos da cidade de São Paulo com lixo e pessoas vagando por todos os lados foi uma experiência e tanto! Estão lá o então viaduto/cartão postal não acabado da Berrini; o teatro municipal, o elevado Costa e Silva.
E quanto a filmagem que presenciei na Avenida Paulista há um ano? A cena estava lá, não durou um minuto sequer, mas só de lembrar a confusão que se formou para filmar uma cena tão curta, percebo que realizar um filme deste porte não é trabalho para qualquer um; então deixo aqui meu agradecimento: Obrigado, Fernando!
"Ensaio Sobre a Cegueira" é um filme nada didático, assim como o livro não o é, e o diretor se recusou a chamar a platéia de ignorante mesmo em uma produção deste porte em que retorno financeiro é esperado e que, supostamente para a platéia ficar satisfeita, tudo deve ser bem explicado, esmiuçado, com seu começo, meio e fim. É verdade que escutei assim que saí da exibição alguém falando: "E acabaram não explicando da onde veio essa cegueira". Se conhecesse a pessoa, minha resposta seria: "Metáforas não têm explicação; se tivessem, não seriam metáforas". Mas entre me passar por chato às 2:30 da manhã ainda mais com alguém que não conheço e voltar pra casa e dormir, fiquei com a segunda opção.
Fernando soube transpor em imagens aquilo que se imagina de uma cegueira branca: desfocava a câmera nos momentos certos, os "fades" eram em sua maioria brancos (ao invés do preto habitual); uma cena muito bem fotografada do encontro do casal oriental na área de isolamento; ótimas interpretações principalmente de Julianne Moore e Mark Ruffalo.
A discussão religiosa ficou em segundo plano: a semelhança semântica entre agnosia (doença cujo portador perde a capacidade de reconhecer objetos visualmente) e agnosticismo (doutrina que declara o espírito humano incompetente de conhecer o absoluto) é citada em diálogo rápido entre os personagens de Ruffalo e Moore no começo do filme; os cegos discutindo por que teriam vendado as imagens de santo vistas pela mulher do médico na igreja. Tudo rápido como deveria ser, uma vez que esta, pelo menos na minha visão (com o perdão do trocadilho), não é a vertente principal do livro.
Acho difícil, mas seria muito bom se Meirelles filmasse "Ensaio Sobre a Lucidez" e que voltássemos a ver a personagem de Moore.
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